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Livros didáticos, discussões trazidas pelos professores e documentos publicados por secretariais municipais e estaduais são alguns dos fatores que moldam o currículo da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Mas outro fator que também pode acabar servindo como guia para os conteúdos a serem abordados em aula e estudados pelo público atendido pela modalidade são os exames de certificação. É o que afirma o professor Paulo Mello, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). “O ensino voltado à preparação para exame é tradição da escola brasileira”, analisa.
Neste ano, essa certificação voltará a ser feita pelo Encceja tanto para o ensino fundamental quanto para o médio. Até o ano passado, quem quisesse o documento que comprovasse o término dos três últimos anos da educação básica deveria fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Contudo, segundo o Inep, em 2016, apenas 7,7% dos candidatos que pediram certificação por meio do exame atingiram a nota necessária para conseguir o diploma. Além disso, o Enem não seria a prova mais adequada para esse objetivo, uma vez que é voltado ao ingresso no ensino superior. Por esses motivos, foi estabelecida a volta do Encceja.
Para Mello, o estabelecimento de um currículo a partir dos exames pode ter impactos negativos. “Muitas vezes, passa a ser o exame aquele que define o conteúdo que o professor deve ou não trabalhar em sala de aula, o que ele deve ou não priorizar na aprendizagem do aluno. Isso facilita a indústria do supletivo”, analisa o professor.
Mas os bons resultados nos exames de certificação são, em geral, restritos àqueles que têm alguma escolaridade e chegaram perto da conclusão, segundo Roberto Catelli Júnior, da ONG Ação Educativa. Já para quem passou muitos anos fora da escola ou possui baixo nível de alfabetismo ou de letramento, a reinserção na vida escolar é fundamental. “Substituir um exame como talvez uma porta principal exclui muita gente da possibilidade de certificação”, argumenta Catelli.
Para quem resolve voltar a estudar, porém, o objetivo nem sempre é o diploma. E a importância da EJA vai muito além desse fim. “No mundo letrado, passar pela escola é muito importante para o ser humano”, afirma Êda Luiz, coordenadora geral do CIEJA Campo Limpo. “Vemos senhoras de 50 anos, depois de formarem os filhos e viverem com um salário mínimo, voltando a estudar e falando ‘agora eu sou gente’. Porque assinam o nome, não são humilhadas e nem enganadas em uma porção de coisas.”
O Encceja
O Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) tem como objetivo permitir a certificação de finalização dos estudos para jovens e adultos. A idade mínima para fazer a prova é de 15 anos para atestar a conclusão do ensino fundamental e de 18 para o ensino médio. As inscrições para a edição de 2017 se encerraram em 18 de agosto.
As provas deste ano serão aplicadas no dia 19 de novembro e serão compostas por 30 questões de múltipla escolha por disciplina e uma redação. No ensino fundamental, as áreas do conhecimento são língua portuguesa, língua estrangeira moderna, artes, educação física, matemática, história e geografia e ciências naturais. No ensino médio, são divididas em linguagens, códigos e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias.
*Texto atualizado dia 19 de setembro. Nesta data, o Inep alterou a data do exame do dia 22 de outubro para 19 de novembro.
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