NOTÍCIA
Em entrevista, Telma Vinha, professora na Unicamp e pesquisadora sobre violência no ambiente escolar faz uma análise sobre o fenômeno
Publicado em 08/05/2019
Por Maria Picarelli
A violência na escola é um fenômeno que precisa ser analisado com cuidado. Esta é a opinião da professora da Faculdade de Educação da Unicamp Telma Vinha, que estuda e realizou diversas pesquisas sobre o fenômeno.
Segundo ela, a percepção de que a violência escolar está aumentando relaciona-se à falta de diferenciação dos diversos problemas de convivência. A saída, afirma, não é simples, nem existe uma fórmula única, mas ela é possível, a partir do momento em que as escolas abram canais de comunicação e envolvam estudantes e as equipes pedagógicas em ações alinhadas com suas demandas e necessidades.
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A violência é, de fato, disseminada nas escolas públicas brasileiras?
O problema do aumento da violência escolar, principalmente em escolas públicas, é controverso e necessita de análise cuidadosa. As violências “duras” são aquelas reguladas pelo Código Penal, como lesões, extorsão, tráfico de droga, agressões físicas, roubo etc. E, ao contrário da percepção vigente, alguns estudos indicam que, na média, não há aumento da incidência de violência dura.
Porém, há o crescimento de outro tipo de conflito: as “incivilidades”, particularmente as pequenas infrações que se repetem constantemente, agressões verbais, insultos, provocações e desrespeito.
Um exemplo são os resultados divulgados pela Fundação Lemann e pela Meritt Informação Educacional a partir dos dados da Prova Brasil que mostrou que, em 2011, 1,9% dos docentes respondeu ter sido agredido fisicamente por estudantes dentro de colégios, índice inferior aos 2,3% de 2007. Porcentagem parecida foi encontrada entre os docentes que relataram casos de agressão física contra alunos cometida por professores na escola em que atuavam (1,5% em 2011 e 1,62% em 2007).
Esses resultados, entre outros, indicam que, na média, não houve aumento desse tipo de violência em cinco anos. Claro que existe violência escolar, mas em menor número do que o alardeado. Sua maior incidência é encontrada, principalmente, em algumas unidades escolares de grandes centros.
Então, por que essa percepção generalizada de aumento da violência escolar?
A resposta pode estar na falta de diferenciação dos diferentes problemas de convivência (incivilidades, transgressão, indisciplina, bullying…), sendo todos considerados violência.
Cada problema de convivência tem suas especificidades e requer intervenções diferenciadas. Essa indiferenciação gera alarmismos e incentiva medidas coercitivas e controladoras, como, por exemplo, a contratação de empresas de segurança, instalação de filmadoras e parcerias com as secretarias de Segurança ou com o Exército na gestão das escolas, buscando-se na atuação policial o que caberia às escolas.
Assim, elas são desqualificadas em seu papel de formar para a cidadania e destituídas de sua função pedagógica de promover a aprendizagem da convivência democrática. Essa questão é séria e precisa ser discutida pela comunidade escolar e pela sociedade, porque influencia diretamente a formação que queremos oferecer para nossas crianças e jovens.
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