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Atração é voltada a estudantes do ensino médio e transmitida pela TV Escola
Publicado em 28/05/2019
Por: Amaro Dorneles
Onde estão enterradas as línguas mortas? Qual seu número primo favorito? Perguntas insanas (ou cretinas) são comuns em várias circunstâncias e encontram terreno fértil na mente de jovens em período de avaliação escolar, tendo que assimilar um significativo volume de informações. Pois a renegada televisão pública do Brasil lapida uma joia desde 2016, quando foi ao ar pela primeira vez o programa Hora do Enem, hoje campeão de audiência da TV Escola, administrada pela Fundação Roquette Pinto, do MEC. A insensatez das questões citadas faz parte do quadro Momento Pop Prof, em que o mestre-apresentador é obrigado a responder às mais bizarras perguntas da audiência.
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Humor e descontração é a forma que a equipe do programa usa para atrair curiosidade e atenção dos estudantes. Gino Márcio Carneiro, gerente de Comunicação da emissora, recorda que a proposta do MEC – desenvolvida por ele, junto com o gerente de Conteúdo Walmir Cardoso e o roteirista Diego Rebouças – era ajudar na preparação de estudantes para o Exame, mas não só resolvendo questões e ensinando disciplinas. Por isso, também são exibidas entrevistas com profissionais das mais diversas áreas: “Essas entrevistas têm o objetivo de ampliar o repertório cultural e mostrar que há inúmeras possibilidades de atuação: a professora de letras que se tornou tradutora da Marvel; o DJ que usa cálculos matemáticos na composição de música eletrônica; o físico que se tornou astro-fotógrafo”.
Renato de Paula, diretor de Programas, revela que a ideia neste tipo de abordagem é mostrar que a decisão por uma carreira não precisa ser algo rígido, definitivo: “Muitas vezes a vida nos leva a caminhos inesperados; em outras, criamos nossos próprios rumos”. De acordo com esse raciocínio, se um aluno decidir estudar história, não quer dizer que ele só possa ser docente ou pesquisador. Exemplo disso é o professor Filipe Pereira, historiador que presta consultoria para a elaboração de videogames.
O programa abre espaço também para profissionais destacados contarem suas histórias e peripécias, como os cineastas Lawrence Wahba, Sérgio Rezende e Belizário Franco. O mesmo vale para escritores, como Silviano Santiago, Mary Del Priore, Geovani Martins, entre outros. “Porém, descobrimos que o maior interesse do nosso público está nos youtubers, principalmente os de educação, que fazem mais sucesso”, observa Carneiro, ao destacar Rafael Procópio e Débora Aladim.
Na abertura do Hora do Enem sempre há um esquete, na maioria das vezes cômico. O primeiro talk show educativo da televisão brasileira tem como “mestre de cerimônias” Land Vieira, ator de formação. Ele apresenta conteúdos didáticos sob a forma de um descontraído, por vezes hilário, bate-papo. Nessas representações, Land interpreta todos os papéis. Eventualmente, há participação de algum professor.
Ainda no primeiro bloco, o professor de determinada disciplina resolve uma questão do Enem. E faz uma revisão do conceito necessário para resolvê-la. Desde a estreia do programa, o segundo bloco está reservado para uma entrevista.
Ao longo do ano, a produção do Hora do Enem prepara programas especiais (Dia do Professor, especial de Natal), além de periódicas revisões de conteúdo. Tudo à disposição, na hora em que o aluno quiser. O líder de audiência da TV pública é transmitido de segunda a sexta, em três sessões: 7h, 13h e 18h. O programa também pode ser visto, a qualquer momento no site (tvescola.org.br), pelo aplicativo do portal, no YouTube, Instagram e Facebook.
Um dos pontos de honra da atração é apresentar professores e entrevistados de todo o Brasil. Foram os casos de Benício Pitaguary, estudante de Geografia que veio de uma aldeia indígena do interior do Ceará, e Roberson Jacques, refugiado haitiano que estuda na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu, no Paraná. A pesquisadora da Nasa, Rosaly Lopes, que vive nos EUA, também contou suas aventuras virtuais no espaço sideral, assim como Arthur Ávila, hoje residente na França e o primeiro brasileiro a receber a medalha Fields de Matemática
A cada dia da semana é destrinchada uma área do conhecimento: matemática (segunda), ciências humanas (terça), linguagens e códigos (quarta), ciências da natureza (quinta) e redação (sexta). Carneiro diz que não existe segredo na fórmula encontrada: “Acho que o programa apenas preenche uma lacuna que outras emissoras deixam. Somos uma televisão modesta, mas conseguimos realizar um bom trabalho com o orçamento que temos”. A equipe é considerada, ao todo, dez profissionais.
O último primeiro de abril trouxe uma notícia que mexeu com a cabeça dos alunos: a gráfica RR Donnelley, responsável pela impressão das provas do Enem, decretou falência. Será que vai ter prova este ano? “Eu sigo as orientações da diretoria da empresa. Até este momento não trabalho com qualquer hipótese da não realização do exame, nem com plano B. Isso não tem sido cogitado na TV Escola” admite Renato de Paula. Segundo ele, Hora do Enem não sofreu qualquer restrição ou sondagem sobre suspensão da prova, por parte do MEC.
“O programa tem como pauta o conteúdo programático do Exame. Ou seja, abordamos os assuntos que de algum modo podem cair na prova. Desde que o programa foi ao ar o exame vem se mantendo o mesmo, Logo, nunca houve nenhuma mudança em relação ao conteúdo.”
O talk show da TV Escola já repercute no continente: em 2017 e 2018, foi finalista do prêmio TAL, principal premiação para as TVs públicas da América Latina: “Ainda em abril chegamos aos 500 episódios. E ao término de 2019 teremos ultrapassado a marca de 600 programas”, exulta Carneiro.
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