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Em entrevista, a professora finalista do ‘Nobel da Educação’ fala sobre seu novo cargo como assessora de Tecnologias na Secretaria de Educação de SP, sobre seu projeto com sucata e ainda as dificuldades da profissão pelo mundo
Publicado em 18/10/2019
Como professora de Tecnologias da rede pública, Débora Garofalo comprovou que sim, é possível fazer a diferença para pelo menos uma parcela da população. Ela entrou na lista dos dez melhores professores do mundo pelo Global Teacher Prize 2019, considerado o Nobel da Educação por conta de seu projeto Robótica com sucata promovendo a sustentabilidade, desenvolvido com o fundamental II da escola municipal Almirante Ary Parreiras, bairro Cidade Leonor, localizada na periferia da capital paulista.
Débora e os alunos, por meio desse projeto, transformaram cerca de 700 kg de lixo da região em objetos de robótica — com apoio da comunidade. O mesmo projeto também foi contemplado no 11º Prêmio Professor Brasil, realizado pelo MEC (Ministério da Educação).
Tais reconhecimentos lhe renderam uma nova missão: replicar a atividade para outras escolas, mas agora como assessora de Tecnologias na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Segundo a professora, um de seus principais objetivos no novo cargo é desmistificar o que é o uso da tecnologia.
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Débora também está tendo a oportunidade de conhecer professores brasileiros em palestras pelo país e até estrangeiros, uma vez que esteve no anúncio do vencedor do Global Teacher Prize 2019, em Dubai. Sobre essa troca de experiência com professores ela revela: “percebo que as dificuldades são muito similares. Conversando com todos noto que sempre há o problema da formação docente. Os professores também estão sempre esbarrando na falta de infraestrutura ou superlotação de sala. O legal é ver como cada país se adequa para ser criativo e reinventar a educação”. Confira a entrevista, concedida durante o 3º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação (promovido pela Jeduca).
Por que a senhora acha que seu projeto teve tanta repercussão? Foi por unir educação, comunidade, sustentabilidade e tecnologia?
Na minha concepção é justamente porque as crianças tiveram o protagonismo de serem multiplicadoras dessa ideia, espalhando o conhecimento para dentro da comunidade. Acho que foi um momento importante de integrar a escola com a comunidade através dos vários vieses para que o aprendizado acontecesse.
Esse projeto sempre foi pautado nas dez competências da BNCC [Base Nacional Comum Curricular]. Uma vez que a tecnologia foi aplicada de forma ética, reflexiva, mas com autocuidado e autoconhecimento.
Com o novo cargo de assessora de Tecnologias na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, o que a senhora pretende fazer?
Começamos a construir uma diretriz no componente de tecnologia sempre olhando e dando voz para o professor. O que nós queremos é traçar um norte para ele, mas que ele tenha autonomia de olhar para a sua realidade e colocar esse tom para trabalhar com a tecnologia dentro de três grandes vertentes: pensamento computacional, letramento digital e tecnologias digitais de informação e comunicação. Justamente para que ele, professor, possa fomentar diversas ações olhando para a tecnologia e permitindo que o aluno não seja só consumidor, que ele seja produtor de tecnologia.
A senhora acredita ser possível falar de tecnologia mesmo em escola que falta estrutura básica?
Esse é um ponto crucial: desmistificar o que é o uso da tecnologia. A gente olha para a tecnologia e acha que precisa de um computador. E não é isso. A tecnologia pode ser trabalhada de forma ‘desplugada’, como foi muito o meu caso. E é esse olhar de reinventar a educação que estamos trazendo [para dentro da Secretaria e, consequentemente, para as escolas].
Os prêmios pelo projeto de sucatas a fez conhecer outras experiências inspiradoras de educadores de diversos cantos do país e até estrangeiros, uma vez que viajou a Dubai para participar do Global Teacher Prize. Nesses contatos, o que está descobrindo?
O que eu percebo é que as dificuldades são muito similares. Conversando com todos noto que sempre há o problema da formação docente. Os professores também estão sempre esbarrando na falta de infraestrutura ou superlotação de sala. O legal é ver como cada país se adequa para ser criativo e reinventar a educação. Vou dar o exemplo do próprio professor Peter Tabichi [queniano vencedor do Global Teacher], cujo trabalho é muito similar ao que eu faço. Ele lida com Ciências e eu Tecnologia. Ele foi criativo não de buscar no lixo, mas por fazer as crianças encontrarem material alternativo para construir aquilo que elas não tinham e com salas muito maiores que as nossas, porque cada sala dele possuem 60, 70 alunos. É uma condição realmente sub-humana e ele conseguiu se destacar e colocar essas crianças em finais de campeonatos de Ciências. Então eu percebo que a criatividade e o protagonismo do professor faz a diferença no mundo.
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