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Infância, onde tudo começa

Autonomia, pensamento crítico e científico são desenvolvidos já na educação infantil. Saiba um pouco sobre esses primeiros anos de vida e a importância da escola fugir de um ensino mecânico

Publicado em 18/05/2021

por Redação revista Educação

Por Sonia Barreira*: Muito tem se falado sobre a educação e os impactos neste período de pandemia, como a falta que a escola vem fazendo na vida das crianças e jovens e sobre as defasagens de aprendizagem acumuladas em mais de um ano de aulas a distância ou híbridas. Se, por um lado, ainda há aqueles que defendem o homeschooling, por outro cresce a percepção social de que as consequências da falta da escola serão mais amplas e severas do que as defasagens nos resultados das aprendizagens de matemática e português.

A educação escolar é um dos agentes mais importantes na constituição do tipo de cidadania praticada e assumida na sociedade. Se os cidadãos são conscientes, participativos e comprometidos com a vida comum, isso teve origem em suas vivências escolares.

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Se são insensíveis, pouco éticos e intolerantes, certamente é porque deixaram de ter experiências coletivas escolares bem conduzidas. Há tempos o papel das escolas não se limita à formação acadêmica e técnica. A imensa diferença da qualidade da oferta educativa existente no país é também geradora de desigualdades no âmbito da vida cidadã.

Muito além das disciplinas

As competências para viver plenamente no contexto da complexidade da realidade do século 21 dependem diretamente do processo de escolarização. Por isso, as escolas centradas no ensino mecânico, transmissivo e repetitivo estão sendo progressivamente substituídas por aquelas que se voltam para a educação integral, aquelas que assumem um projeto formativo amplo e focado no desenvolvimento de competências igualmente complexas. A educação não pode se limitar aos conteúdos disciplinares.

As conquistas necessárias para enfrentar a complexidade do mundo contemporâneo não se efetivam passo a passo e não se constroem no limite do ano letivo. Por esta razão, os projetos formativos devem ser guiados por ideias que sustentem o ideal de cidadão que irão entregar para a sociedade.

infância desenvolvimento

Foto: Freepik

O crescer do ser humano

O desenvolvimento da autonomia começa na infância por meio de pequenas ações independentes que, quando incentivadas, levam à autoconfiança e à autoimagem positiva. Os passos dados desde a educação infantil crescem e, se devidamente mediados no ambiente escolar, oferecem a base para a construção da autonomia moral e intelectual, fundamentais numa sociedade em que informações nem sempre são confiáveis. Assim, fatos ganham versões parciais e a pós-verdade domina os discursos públicos.

O pensamento crítico e científico começa na infância e é fruto da curiosidade que impulsiona a busca pelo entendimento do mundo que nos cerca. Esse interesse é natural nos primeiros anos de vida, mas necessita de estímulo e ambiente adequados para resultar em instrumentos cognitivos de investigação e compreensão dos fenômenos sociais, naturais ou tecnológicos. Sem eles, a capacidade de resolver problemas complexos e compreender a produção científica arrojada do século 21 fica comprometida. Sustentar a curiosidade latente e alimentá-la para que se desenvolva são tarefas das famílias, mas é essencialmente na escola que isso pode ser garantido.

A capacidade de dialogar e de respeitar a diversidade é inaugurada nos anos iniciais de socialização, e se dá por meio do estranhamento causado por ser “um entre outros”: ter que dividir, aguardar sua vez e entender os pontos de vista diferentes do seu. Isto é, ocorre quando a mediação de conflitos leva à reflexão, ao conhecimento, à tolerância e compreensão das normas de convívio. A evolução desse processo dá a base para a cidadania e para os valores democráticos.

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Imensidão cultural

Mas a escola é também o lugar do conhecimento e da construção de sólida bagagem cultural. Processo que se inicia na educação infantil, quando os pequenos começam a compreender que a língua falada pode ser escrita, que os livros oferecem outros lugares, outras pessoas e outros acontecimentos que podem encantá-los, assustá-los, surpreendê-los. É quando começam a se envolver em descobertas fantásticas sobre o funcionamento das coisas, do passado, do longínquo e se aproximam do desconhecido. Aprender a aprender é fruto de um processo cuidadosamente planejado pelos educadores e educadoras.

O conhecimento sobre outras culturas, referências e produções culturais, facilitadas pelo domínio de outros idiomas, pode começar na infância e, progressivamente, transforma-se em ferramenta fundamental para uma cidadania global. O bilinguismo abre portas para um maior número de escolhas e constrói pontes culturais requeridas fortemente no mundo contemporâneo.

A criatividade e a sensibilidade também começam na infância. Os processos de autoconhecimento, domínio das emoções e conhecimento dos sentimentos, fundamentais para uma vida adulta sadia, ética e íntegra, começam quando ainda somos pequenos e dependemos dos adultos que nos rodeiam para nos guiar nessa trajetória.

Onde se dá o início da construção de uma sociedade mais justa, mais democrática e mais solidária? Na infância, certamente. No âmbito familiar, sem dúvida. Mas, é no contexto coletivo que a escola propõe que efetivamente as construções fundamentais vão ocorrer.

*Sonia Barreira é educadora, fundadora da Escola da Vila e diretora pedagógica da Bahema Educação.

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