NOTÍCIA
Publicado em 05/08/2021
Sou um entusiasta do ensino integral. Infelizmente, uma realidade ainda longe de grande parte das escolas brasileiras, não só na rede pública, mas também na privada. Recente reportagem do jornal O Globo, no entanto, traz uma lufada de inspiração ao chamar a atenção para a estudante Franciele Abreu, de 20 anos. Moradora de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ela se prepara para embarcar para a França, onde vai cursar direito na Universidade Paris Nanterre, a partir do próximo ano letivo, que por lá tem início em setembro.
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Aluna do Ciep Leonel de Moura Brizola, em Niterói, Abreu foi alfabetizada em francês na unidade da rede estadual de ensino, que conta com um convênio com o consulado do país europeu desde 2014. Filha de uma professora de educação infantil e de um motorista, ela conseguiu a vaga graças a um processo seletivo que exigiu duas certificações no idioma, além de entrevistas feitas na língua local.
A unidade em que Franciele Abreu cursou o ensino médio é uma das sete espalhadas pelo estado do Rio de Janeiro que contam com ensino intercultural. As parcerias entre a Secretaria Estadual de Educação e os consulados de México, Estados Unidos, Itália, Turquia e China, além do da França, garantem ensino integral e bilíngue nos idiomas desses países, durante a preparação para o Enem.
O ensino integral vai muito além de otimizar as horas disponíveis dos estudantes, ampliando o tempo que passam na escola. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a educação integral visa à formação e ao desenvolvimento global do corpo discente durante a educação básica.
Esse projeto pedagógico busca atender a demanda da comunidade escolar e integra as diferentes áreas do conhecimento, com propostas interdisciplinares e temas contemporâneos. O objetivo é promover pontes entre o aprendizado e o cotidiano.
E não são necessários grandes recursos para fazê-lo virar uma realidade. Uma boa dose de iniciativa e de criatividade, como mostra esse exemplo do Rio, aponta para os benefícios de uma educação integral e intercultural. Franciele Abreu ainda tem uma batalha pela frente: com amigos, ela pretende organizar uma “vaquinha” online para financiar seus estudos na Europa. Apesar de ter sido aprovada, ela não contará com uma bolsa que a ajude a custear a moradia na França.
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A visibilidade que tem alcançado deve ajudá-la nessa empreitada e demonstra também que soluções para alguns dos problemas da educação nacional, embora complexos, podem começar com iniciativas que possam alimentar sonhos e formar futuros cidadãos globais.
Que surjam muitas outras “Francieles” e que nosso próximo desafio seja ter todas elas retornando e residindo em nosso país. Educação é uma via de duas mãos – o que se aplica agora, volta ao país em forma de desenvolvimento. Não há outro caminho para a nação.
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