Nove pesquisadores demonstram em publicação recém-lançada como ações afirmativas são essenciais para reduzir as desigualdades educacionais e os impactos do racismo no futuro dos estudantes
Publicado em 07/09/2021
Contribuir para uma educação com mais equidade para crianças, adolescentes e jovens negros é o objetivo dos pesquisadores que participaram da primeira edição do Edital de Equidade Racial na Educação Básica. O resultado do trabalho pode ser conferido no site oficial (clique aqui), que reúne os nove artigos científicos selecionados, abordando temas como práticas pedagógicas antirracistas, feminismo negro, representatividade na literatura infantil e reprodução de racismo nas escolas.
O edital é uma iniciativa do Itaú Social com realização do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), em parceria com o Instituto Unibanco, Fundação Tide Setubal e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
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“A situação educacional de mais da metade da população brasileira, que é negra, é silenciada. Porém, a sociedade civil está viva, protagonizando ações que visam compreender melhor as situações de desigualdades que ocorrem pelo país. O edital é uma das estratégias para superar essa realidade e os artigos científicos são uma rica contribuição para o debate no campo da equidade educacional”, destaca a diretora-executiva do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), Cida Bento.
Entre os artigos selecionados está o do pesquisador doutor João Paulo da Conceição Alves, que se debruçou nos indicadores de percepção dos alunos de uma escola da periferia de Macapá, AP. Ele demonstrou os fatores que contribuem para a formação de uma perspectiva fragilizada dos jovens da Amazônia Negra para a inserção no mercado de trabalho, tais como condições financeiras e estereótipos.
“As escolas de educação básica possuem papel fundamental neste processo de equidade social e racial, na aproximação junto à comunidade, no desenvolvimento de ações extensivas, como oficinas, ações sociais com foco na formação e profissionalização da população negra do Amapá”, afirma.
O professor Geimison Falcão de Lima analisou as práticas docentes e o desenvolvimento da disciplina de história e cultura afro-brasileira e africana em uma escola localizada em um território quilombola próximo aos municípios de Horizonte e Pacajus, no Ceará. “Meu objetivo foi evidenciar, identificar e entender como se dava o ensino desta disciplina junto à comunidade do entorno na qual a escola se encontra”, explicou.
Em São Paulo, as pesquisadoras Louise Marinho e Milena Natividade da Cruz analisaram a criação de ações educativas voltadas a jovens do ensino fundamental 2 que mobilizam recursos iconográficos com base na perspectiva antirracista. “Nossa intenção era traçar um plano de ação para criar outro referencial visual antirracista que pudesse ser usado em sala de aula, que trouxesse outras concepções da história e que positivassem a imagem deles na autorrepresentação”, relata Milena Natividade.
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Também estão contemplados na publicação os artigos: Literatura negra feminista: uma proposta de enfrentamento ao sexismo e ao racismo epistemológico, de Viviane Marinho Luiz; O Potencial de Práticas Decoloniais na formação docente, de Priscila Elisabete da Silva; Eu sô peta, tenho cacho, sô linda, ó: o que dizem as crianças sobre a literatura infantil de temática da cultura africana e afro-brasileira, de Sara da Silva Pereira; A potencialidade da literatura como prática pedagógica antirracista: um estudo de caso, de Vinícius Oliveira Pereira; A reprodução do racismo no contexto escolar: um relato de experiência, de Nairana da Silva Lima do Rozario e O quilombismo na Africana e afro-brasileira: Uma perspectiva identitária na educação escolar, de Nayane Larissa Vieira Pinheiro.
O Edital de Equidade Racial na Educação Básica é uma iniciativa do Itaú Social com realização do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), em parceria com o Instituto Unibanco, Fundação Tide Setubal e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Além de selecionar os artigos científicos, o edital está investindo R$ 3 milhões para o desenvolvimento de pesquisas aplicadas que buscam soluções para a redução das desigualdades étnico-raciais na educação.
Para garantir a transparência em todo o processo seletivo, as cinco instituições realizadoras e parceiras formaram uma estrutura de governança, com o apoio de um conselho consultivo constituído por especialistas da temática racial, educação básica, assim como fomento e organização de editais de pesquisa.
Doutorado
“Literatura negra feminista: uma proposta de enfrentamento ao sexismo e ao racismo epistemológico”, Viviane Marinho Luiz (SP)
“O Potencial de Práticas Decoloniais na formação docente”, Priscila Elisabete da Silva (SP)
“O Ensino Médio na Amazônia “Negra”: indicadores e perspectivas de alunos negros sobre o mercado de trabalho no Amapá”, João Paulo da Conceição Alves (PA)
Mestrado
““Eu sô peta, tenho cacho, sô linda, ó”: o que dizem as crianças sobre a literatura infantil de temática da cultura africana e afro-brasileira”, Sara da Silva Pereira (PR)
“A Potencialidade da Literatura como Prática Pedagógica Antirracista: um estudo de caso”, Vinícius Oliveira Pereira (RJ)
“Práticas culturais e ensino de História em uma escola quilombola no município de Horizonte-Ceará”, Geimison Falcão (CE)
Graduação
“O Quilombismo na Literatura Africana e Afro-Brasileira: Uma perspectiva identitária na educação escolar”, Nayane Larissa Vieira Pinheiro (CE)
“Olhar Opositor e um futuro negro na educação: possibilidades para uma prática antirracista a partir de novos regimes de visualidade”, Louise Marinho Costa de Assis (SP)
“A reprodução do racismo no contexto escolar: um relato de experiência”, Nairana da Silva Lima do Rozario (SP)