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Arte e Cultura

Documentário de Emicida inspira professora da rede pública

Uma aula se dá na construção cotidiana da relação entre professor, estudante e conhecimento, tendo como pano de fundo o contexto ao qual esses sujeitos estão inseridos. Esse é o triângulo pedagógico proposto por Jean Houssaye (1998). Mas como fazer dessa relação um ciclo virtuoso […]

Publicado em 19/11/2021

por Damaris Silva

Uma aula se dá na construção cotidiana da relação entre professor, estudante e conhecimento, tendo como pano de fundo o contexto ao qual esses sujeitos estão inseridos. Esse é o triângulo pedagógico proposto por Jean Houssaye (1998). Mas como fazer dessa relação um ciclo virtuoso que culmine em processos criativos e libertários de ensino e aprendizagem?  Plantar, regar e colher.

Leia: Clássico da luta antirracista é relançado

O ciclo da natureza, que também inicia uma peça em três atos: AmarElo – É tudo pra ontem, documentário lançado em dezembro de 2020 que narra os bastidores de um show do rapper Emicida realizado no Theatro Municipal em 2019, tendo como pano de fundo o reencontro da periferia com a história do Brasil. Ao longo da narrativa, Emicida exalta dezenas de personagens negros essenciais para a composição da riqueza cultural e intelectual brasileira: Clementina de Jesus, Geraldo Filme, Teodoro Sampaio, Enedina Alves, Pixinguinha, Donga, Ruth de Souza, Clara Nunes, Lélia Gonzalez, Leci Brandão, Luis Gama, Abdias do Nascimento, Marielle Franco entre tantos outros… Uma obra-prima da produção cinematográfica recente e que a professora Taís Renata Luiz, que leciona história na rede pública municipal de São Paulo, percebeu que não poderia ficar fora da escola.

Para Taís, AmarElo retrata uma outra história do Brasil ao direcionar o olhar sobre a riqueza cultural do povo negro na construção de nosso país sob o prisma da música rap e da força da “cosmopolita” e “multicultural” periferia de São Paulo. Ao trazer a produção para sua sala de aula, a professora previu que sua sequência didática seguiria o mesmo fluxo da organização do filme: plantar o filme, regar com as discussões e colher produções escritas dos alunos e tudo o mais que uma boa colheita pode proporcionar.

Leia: Documentário na escola: diferentes linguagens em ação

Dentre as produções, uma a surpreendeu. Ao concluir a projeção, Christian Alexandre Torres dos Santos, estudante de 12 anos, optou por expressar a atividade por meio de um desenho. O jovem reproduziu a imagem de Emicida com um par de óculos cujas lentes refletem o morro e o personagem ilustrado diz: “Eu quero mostrar do que a voz negra é capaz”.

AmarElo
Christian Alexandre, 12 anos, desenhou Emicida com um par de óculos cujas lentes refletem o morro (foto: arquivo)

Para a professora, o AmarElo e a produção de Christian são importantes porque ensinam seus alunos a sonhar. O olhar de Emicida para nossa história enxerga o passado, o revisita e traz ao presente: nós por nós. O rapper se torna, portanto, a personificação desse sonho realizado e, como nas palavras de Emicida, “é sobre aprender tipo giz e lousa” a inventar outros futuros, ressignificando o passado. Uma colheita urgente, afinal, é tudo pra ontem.

AmarElo
Ao saber que o trabalho da professora seria citado nesta coluna, o menino se empolgou e fez mais um desse (foto: arquivo)

Damaris Silva é mestre em letras e especialista em gestão escolar

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Damaris Silva


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