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Você aprende aquilo que sente?

Por muitos anos, o sistema educacional priorizou o aprendizado cognitivo ao social. De uma certa forma, parecia que desenvolver “o cérebro” era melhor que desenvolver habilidades sociais e emocionais. Ensinar fórmulas matemáticas, datas históricas e regras ortográficas pareciam mais importantes do que a expressão artística, […]

Por muitos anos, o sistema educacional priorizou o aprendizado cognitivo ao social. De uma certa forma, parecia que desenvolver “o cérebro” era melhor que desenvolver habilidades sociais e emocionais. Ensinar fórmulas matemáticas, datas históricas e regras ortográficas pareciam mais importantes do que a expressão artística, por exemplo.

Infelizmente, ainda hoje, muitos processos de aprendizado estão enraizados nessa estrutura, amparados, principalmente, pelo sistema educacional atual, ao qual o vestibular é o ponto de chegada.

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Leia: Educação com base em valores – coluna José Pacheco

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Mas, somos seres integrados. Corpo, coração e mente andam juntos. Não é à toa que os eventos marcantes na nossa vida estão todos permeados pela emoção. Por que seria diferente para o aprendizado? As emoções fazem parte do que somos e acontecem independentemente da nossa vontade. Já os sentimentos são uma resposta à emoção, ou seja, como nos sentimos e nos expressamos diante de tal emoção. Os sentimentos afetam nosso comportamento, nossas escolhas e nosso aprendizado. Aprendemos aquilo que sentimos.

Então, como repensar o processo de aprendizado sob a lente das sensações? O primeiro passo é o autoconhecimento. Sim, precisamos nos conhecer para saber o que nos afeta, o que nos emociona. Entender como acontece o nosso processo de aprendizado para, daí, sermos tutores do aprendizado de outra pessoa.

Pare e pense. Como foram os seus últimos processos de aprendizagem? Pense no conteúdo, mas principalmente em como você estava naquele momento, como se sentiu em relação àquele processo, como o formato do aprendizado influenciou, como as pessoas que fizeram parte dele tiveram importância no despertar ou não do seu interesse. Saber reconhecer e lidar com os sentimentos que esses processos despertaram também é um aprendizado.

Como dizia Paulo Freire em Pedagogia da esperança: “Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido”.  Podemos dizer que aprendemos o que sentimos. Aprendemos quando nos relacionamos.

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Leia: Socioemocional: fugir dos modismos e compreender o tema a partir de seu projeto pedagógico

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O aprendizado também é um emaranhado de sentimentos, como se fosse linhas de um novelo que vamos, aos poucos, desenrolando, entendendo, até por isso chamamos de processos de aprendizagem.

Vamos, aos poucos, percebendo o que aquele caminho nos desperta, como aquele conteúdo nos toca. Qual o sentido que aquilo tudo tem para mim? Como tocar o outro se não sentimos nada? Com certeza você já percebeu que um conteúdo que te sensibiliza é compartilhado de uma forma muito mais envolvente e transformadora do que aquele que não tem um real significado para você. E aqui não estou levando em conta qual o ‘tipo’ de sentimento em jogo.

É isso. Dar e receber. O aprendizado precisa de troca. Troca é relação, é sentimento. Não dá pra ser diferente. Você aprende o que te afeta.

Entender o que sentimos é essencial, é profundo. Se conhecer é decisivo. Não é aceitável um dialético “bom” ou “ruim”, o que é um desafio quando estamos inseridos em uma cultura do bem e do mal. É preciso exercitar o nosso olhar para dentro de nós e compreender o que nos afeta e como nos afeta.

Primeiro passo dado. Olhamos para o nosso processo. Identificamos e entendemos como os sentimentos influenciam a nossa aprendizagem. E agora, como os educadores despertam e lidam com os sentimentos dos aprendizes? Como é possível reconhecer cada processo de aprendizagem, cada sentimento despertado? O que afeta um, pode não afetar o outro e um dos grandes desafios do educador é tornar a informação significativa.

A regra de ouro: ter mente aberta. Todos esses sentimentos estão em transformação. É um ciclo. Você apresenta um conteúdo com uma carga de emoção, que é recebido por um interlocutor com outra história de vida, outras experiências e referências. Outros sentimentos são formados a respeito daquela primeira versão. Eles se misturam e se transformam em novas versões de si mesmos. E, assim, carregados de sentimentos, experiências e referências, as emoções e os conteúdos andam juntos em uma transformação constante e muito bem-vinda.

Conteúdo em transformação, emoções em transformação. Assim se constroem aprendizados significativos, repletos de referências e experiências. Pessoas donas de seus aprendizados e conhecedoras de seus sentimentos estão prontas para cocriarem um futuro coletivo e que faça sentido para todos.

Mariana Gonzalez é fundadora da Rima Aprendizagem. Jornalista, historiadora e empreendedora. Apaixonada pela comunicação afetiva e pesquisadora de processos de aprendizagem e inteligência coletiva.

Tatiana F. Laganá é fundadora da Rima Aprendizagem. Física, doutora em astronomia e pedagoga. Autora e revisora de materiais didáticos e atua como consultora em inovação em educação.

Escute nosso podcast:

Autor

Mariana Gonzalez e Tatiana F. Laganá


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