ARTIGO
Em ano de eleições presidenciais e um contexto de grande polarização política, as campanhas de incentivo para que os jovens de 16 e 17 anos tirem o título de eleitor se intensificaram. Ações de conscientização ganharam força em uma tentativa de estimular essa faixa etária […]
Publicado em 03/05/2022
Em ano de eleições presidenciais e um contexto de grande polarização política, as campanhas de incentivo para que os jovens de 16 e 17 anos tirem o título de eleitor se intensificaram. Ações de conscientização ganharam força em uma tentativa de estimular essa faixa etária a desempenhar um papel político mais ativo dentro da sociedade.
O Girl Up Elza Soares, movimento que atua na zona norte do Rio de Janeiro, organizou eventos nas escolas C.E. Paulo de Frontin e Nossa Senhora de Bonsucesso para ajudar os jovens a tirarem o título. Na ação, que faz parte da campanha #SeuVotoImporta, o grupo pede para que a direção do colégio participante comunique os alunos interessados sobre quais documentos são necessários. Assim, durante o intervalo das aulas, as voluntárias recebem os alunos no pátio da escola com computadores, tablets e celulares para que, junto a eles, possam preencher os dados necessários no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A estudante e membra do Girl Up Elza Soares, Lily Montano, de 15 anos, acredita que a escola deveria estar mais envolvida nas questões políticas.
“Não tem como a gente votar sem fazer a mínima ideia do que está acontecendo. E não apenas em relação às pautas da política, mas também sobre como a gente pode atuar nela, porque eu não vejo muitas escolas falando que a gente tem a opção de ser político no futuro”, critica Lily.
Bruna de Mendonça, 19 anos, que também faz parte do movimento, conta que muitos estudantes relataram durante essas atividades que ainda não haviam tirado o seu título por falta de incentivo. “Estarmos lá foi o que motivou eles a tirarem. É superimportante que as escolas motivem seus alunos a tirarem o título e a votarem. E, mais importante ainda, que expliquem a importância disso. Somos nós que, no futuro, vamos colher os frutos dessa eleição”, salienta.
Até o momento, foram cerca de 60 estudantes que decidiram tirar o documento durante as ações. Nesta quarta-feira, 4 de maio e data final do prazo para que os jovens tirem o título, o Girl Up Elza Soares ainda realizará um evento no Colégio Qi Metropolitano, na unidade do Méier.
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A falta de incentivo nas escolas é apontada por Bruno Dourado Garbi, de 17 anos. Estudante da rede pública em São Caetano do Sul, SP, Bruno explica que passou a estudar política por conta própria. “Sinto bastante falta [de incentivo por parte da escola]. Muitos adolescentes com quem convivo não têm interesse. Eles realmente não são obrigados a gostar de política, mas, quando fazem 18 anos, são obrigados a votar”, lembra. “Esse processo da formação para que a pessoa desenvolva sua própria opinião deveria ser papel da escola e não de um tweet, como muitas vezes acontece”, enfatiza.
Em uma realidade que se difere da descrita por Bruno, a disciplina de Ética e cidadania é oferecida na grade curricular da Escola Móbile, instituição particular em Moema, SP, para os estudantes do ensino médio. “A ideia dessa matéria é trazer para o aluno os grandes acontecimentos do âmbito político nacional e internacional”, explica o professor Roberto Candelori, 64 anos.
O educador, formado em filosofia pela USP, ressalta que, quando se tratava de política nacional, era notável o pouco conhecimento das turmas de 1º ano em relação ao seu funcionamento. Para despertar o interesse do voto nos estudantes, além das aulas, o colégio também realiza eleições entre as turmas de 6º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio.
Roberto relata que, entre as turmas para as quais leciona, a maior parte dos alunos irá votar. “Eles se interessam porque, de certa forma, têm contato com essas temáticas”, reconhece. Ao falar sobre a importância da introdução do jovem à política, o profissional ressalta que a função da escola é de qualificar e formar cidadãos “que possam contribuir para que tenhamos uma sociedade melhor”.