NOTÍCIA
E eles estão florescendo de novo, trazendo as muitas lembranças que andavam adormecidas em mim. Meu pai, simplesmente, era fascinado pelos ipês amarelos. Dizia se identificar com eles… Coisa de gente que não segue o comboio da maioria e tem coragem de defender seu jeito […]
Publicado em 04/08/2022
E eles estão florescendo de novo, trazendo as muitas lembranças que andavam adormecidas em mim.
Meu pai, simplesmente, era fascinado pelos ipês amarelos. Dizia se identificar com eles… Coisa de gente que não segue o comboio da maioria e tem coragem de defender seu jeito de pensar e de acreditar na humanidade.
Os ipês são assim, florescem no inverno, enquanto a grande maioria das árvores prefere a primavera ou o verão para vestirem suas roupas de flor. Os ipês declaram suas opiniões e preferências e era justamente essa a afinidade de Rubem Alves com eles.
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Ele fazia tudo ao contrário, como se florescesse no inverno… Acreditava que o grande objetivo da vida era o de conquistarmos a liberdade de voltarmos a carregar a alegria e o encanto nos olhos da infância quando chegássemos na velhice. Defendia que a educação, para ser efetiva, precisa ter compromisso com a criança e, se possível, com o sistema também. Despertava o amor pela vida pelo sabor, e não pelo saber e, acredito eu, que foi justamente por essa razão que ouvia com relativa frequência pessoas dizendo que havia salvado suas vidas.
Os ipês resgatam essas memórias desse amor franco e audacioso entre pai e filha, memórias de uma mente que se tornou genial por saber nos apresentar o gosto bom que a vida tem.
Em julho deste ano completamos oito anos que nos despedimos de Rubem Alves, e os ipês amarelos estavam floridos na ocasião. Tanto ele dizia que as pessoas são o que elas amam, os ipês são a metáfora perfeita de sua representação, da sua voz, das suas piadas, do seu jeito de pensar. Eles viraram um símbolo, na medida em que, para todos os que amam Rubem Alves, são muito além de uma simples árvore, mas um universo inteiro de memórias, sentidos e sentimentos.
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Alguns meses depois de ouvir sua voz e olhar em seus olhos pela última vez, escrevi um poema, que transcrevo abaixo:
Ele foi ter com as nuvens do céu
Virou sopro, uma breve lacuna entre o tudo e o nada
Foi brincar com as andorinhas
Ou de faz de conta de arco-íris, de pipa ou de anjo.
O que é certo é que continua a brincar
Na eternidade que plantou
Que brota, enraíza e cresce
E lenta, muito lentamente, ilumina
Tal qual um ipê amarelo.
Por esse mundo de mares incansáveis
De vai e vem espumantes
Uma eterna criança de olhos encantados
Dedicou a brincar-se com a beleza
Do encantamento que é este mundo de Deus.