NOTÍCIA
“Nos dois relatórios anteriores, o processo histórico sofria uma evolução, enquanto neste momento, vivemos uma ruptura”, contextualizou Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação e professor emérito na UnB, em painel de encerramento do Grande Encontro da Educação, na última sexta-feira, 19. Embora sem conclusão, no sentido […]
Publicado em 22/08/2022
“Nos dois relatórios anteriores, o processo histórico sofria uma evolução, enquanto neste momento, vivemos uma ruptura”, contextualizou Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação e professor emérito na UnB, em painel de encerramento do Grande Encontro da Educação, na última sexta-feira, 19. Embora sem conclusão, no sentido de dar uma sentença final às problematizações atuais, o recente relatório da Unesco, intitulado Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação, é um guia para uma mudança de atitude imediata para as próximas três décadas – cruciais para o futuro do próximo século.
Dividido em três grandes áreas, o documento foi elaborado por 18 membros de todos os continentes, incluindo Cristovam Buarque – o único representante brasileiro, durante 2020 e 2021, em um momento crítico da história global. O relatório, que propõe convergir as relações uns com os outros, com o planeta e com a tecnologia, enfatiza que para transformar a educação, é preciso forjar um novo pacto social, capaz de corrigir as injustiças do passado e, ao mesmo tempo, transformar o futuro.
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“Para isso precisamos pensar diversas questões: ter a educação como um direito, repensar como a aprendizagem é organizada e os atores responsáveis. Na verdade, todos somos responsáveis, mas obviamente que o Estado tem um papel crucial e os professores são elementos chaves para este avanço”, declarou Rebeca Otero Gomes, coordenadora da Unesco no Brasil.
Longe de se estabelecer como um conjunto de receitas futuristas, o guia é um convite à reflexão; daí o “Reimaginar” no título. Mais do que isso, é um chamado para ações que podem e devem ser praticadas no presente.
1. Fortalecer o compromisso público com a educação como um bem comum;
2. Expandir a compreensão do direito à educação;
3. Valorizar a profissão docente e a colaboração entre os professores;
4. Promover a participação dos jovens, crianças e estudantes e seus direitos;
5. Proteger e promover as escolas como espaços de aprendizagem para transformar a educação;
6. Promover as tecnologias e os recursos educacionais abertos e gratuitos para os professores e estudantes;
7. Promover a alfabetização científica no currículo;
8. Proteger o financiamento público local e internacional para a educação;
9. Avançar a solidariedade global para a redução dos níveis de desigualdade.
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As propostas perpassam por todos os agentes sociais; todos podem se responsabilizar por um ou mais aspectos. A lista também exigirá mudanças nos currículos para “alfabetizar para a contemporaneidade”, como ressalta Cristovam Buarque. “Precisamos transmitir questões de solidariedade com as pessoas no mundo, com a natureza. A proteção das florestas tem que estar no conteúdo escolar de todos no mundo”, disse. “Outro ponto é que não dá mais para imaginar uma educação de qualidade em que se fale só o próprio idioma, temos que acabar o analfabetismo para a contemporaneidade e, em caso de países como o Brasil, ainda temos que sair do alfabetismo pleno”, lembrou.
Um dos pontos centrais da discussão, fortemente endossado por Rebeca Otero e Cristovam Buarque, é a importância da figura do professor para assegurar qualidade na aprendizagem e sua relação com a tecnologia, o que exige uma necessidade de reinvenção e não substituição. Por isso a valorização do profissional há tanto falada, é o terceiro item da lista.
Concomitante a isso, está a garantia de um sistema escolar público equitativo e de qualidade.
“Me preocupa muito essa privatização crescente no país, não podemos perder a visão de que a educação deve ser para todos. É claro que as escolas privadas devem existir, mas devemos garantir que a escola pública proporcionará educação adequada para um ser humano completo”, concluiu a coordenadora da Unesco no Brasil.
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Periodicamente, a Unesco trabalha sobre reflexões para a educação em momentos críticos. Em 1972, foi lançado o primeiro relatório intitulado Aprender a Ser, escrito por Edgar Faure, em que ele traz o conceito de educação ao longo da vida; Em 1995, foi a vez do Educação, um tesouro a descobrir, de Jacques Delor e comissão internacional, no qual aborda os quatro pilares da educação; Agora em 2022, a Unesco lança o Reimaginar nossos futuros juntos – um novo contrato social para a educação, coordenado pelo português António Nóvoa e elaborado por outras 17 mentes, por meio da colaboração de mais de um milhão de agentes, entre eles professores e estudantes de todo mundo, com debates, workshops, rodas de conversa, etc. Disponível em português e outras línguas, o relatório não possui uma conclusão. Ao invés disso, finaliza com três perguntas reflexivas deixando em aberto as diferentes possibilidades de futuros:
O que devemos continuar fazendo?
O que devemos deixar de fazer?
O que deve ser reinventado de maneira criativa?
À parte, questionamos: e você, o que fará por sua comunidade escolar?
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