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Série apoiada pela FTD Educação | Ao longo dos anos, a educação começou a entender que, além de formar o aluno com conhecimentos básicos e conteúdos fixos, é preciso pensar em sua formação como ser humano. Com isso, há modelos de ensino que procuram desenvolver […]
Publicado em 30/03/2023
Série apoiada pela FTD Educação | Ao longo dos anos, a educação começou a entender que, além de formar o aluno com conhecimentos básicos e conteúdos fixos, é preciso pensar em sua formação como ser humano. Com isso, há modelos de ensino que procuram desenvolver novas habilidades nos jovens e assim despertar o potencial e protagonismo de cada um. Atualmente, vale ressaltar a necessidade da atenção e cuidado ao socioemocional e à saúde mental dos estudantes.
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O Colégio Guadalupe, na Bahia, trabalha com o Sistema de Orientação Educacional e Psicológica (SOEP), um serviço que realiza atendimento a alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e/ou que estão passando por dificuldades pessoais. Com 53 anos de história, a aproximação com os psicólogos em busca de oferecer um melhor apoio aos seus alunos é prática antiga da instituição.
“O trabalho do psicólogo na escola sempre foi de acolher e atender às necessidades dos alunos, porque eles estão em um processo de constante mudança. Você percebe muitas inseguranças, incertezas, preocupações e medos vindos deles. O papel do psicólogo, o papel do SOEP na escola sempre foi de escuta e de acolhimento. Mais tarde ele foi se especializando e hoje também temos um cuidado muito específico com as crianças com necessidades educativas especiais”, explica Lizzia Pereira, diretora-geral do colégio.
Lizzia atua no cargo de direção há 22 anos, porém, está no colégio há mais de 40 anos, uma vez que a instituição foi fundada por seus pais e hoje é dirigida pela família. No cargo de direção pedagógica está sua filha mais nova, Laiz Pereira, que além de pedagoga também é psicóloga e tenta atuar diretamente no SOEP com o psicólogo responsável.
Laiz conta que no caso do atendimento voltado a alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, o sistema realiza um mapeamento individual. Caso seja identificada alguma necessidade educativa diferenciada, esse aluno é encaminhado a um especialista externo e a escola passa a preparar o professor para conseguir lidar com ele e com a família da melhor forma possível, pois acreditam na inclusão e na importância de o aluno frequentar a escola regular.
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“A partir do mapeamento, a gente vai perceber como esse aluno aprende, orientando os professores a tirarem o máximo de aproveitamento, incentivando-o e o trazendo para próximo, adaptando nossos materiais. Também convidamos a família para entender o que está acontecendo na vida de seu filho, que muitas vezes precisa de atenção especial ou tem alguma dificuldade. Pois, muitas vezes, as famílias não identificam que aquela dificuldade pode ser muito bem tratada por um acompanhamento fora [e dentro] da escola”, detalha Laiz, que atua no colégio há 17 anos, sendo dois anos como diretora pedagógica.
O atendimento do SOEP é voltado aos estudantes, porém, segundo Laiz, foi contratada “uma equipe de meditação de mindfulness, que é uma metodologia extremamente ligada à psicologia cognitivo-comportamental e ao gerenciamento das emoções [para os educadores]”. Uma ação realizada no período da pandemia, mas que será continuada.
Além do SOEP, o colégio possui diversos projetos que procuram incentivar os estudantes a conseguirem se expressar, por exemplo, o Café com Letras. O que começou com uma ação em que os alunos podem falar sobre um tema específico por meio da poesia, se tornou um evento anual voltado apenas para os alunos e professores. Agora, além de poesia, eles podem desenvolver, a partir do tema estabelecido no ano, trabalhos com música, teatro, dança e outros tipos de artes.
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“Por que os pais não podem ser convidados? Porque às vezes eles intimidam. As crianças e os jovens ficam mais tímidos com sua presença e na escola eles se comportam de outra forma… Eu digo ser um momento intimista, em que eles se apresentam para a escola não somente como estudantes, mas como jovens, como alguém que está na sociedade, que está vivendo e sentindo suas próprias dores. No ano passado teve um poema lindo que foi apresentado que falava da valorização da mulher, do espaço de que a mulher precisa e vem buscando encontrar na sociedade e no mercado de trabalho”, diz Laiz Pereira.
O colégio possui 650 alunos e um total de 64 educadores, tendo uma mensalidade média entre 700 e 800 reais, e oferece todos os níveis da educação básica em período regular. Segue uma educação sociointeracionista baseada no tripé da teoria de Lev Vygotsky (aprendizagem a partir da convivência), de Jean Piaget (fases de desenvolvimento da criança) e de Henri Wallon (afetividade). As diretoras acreditam que o futuro da educação está na valorização do ser humano e nesse cuidado sensível com os alunos. “Eu entendo que a educação tende a ficar mais aberta. Os muros das escolas precisam ser mais rebaixados. A escola precisa acontecer em todo lugar”, apresenta Laiz.
“Temos apostado no fortalecimento emocional, tanto dos alunos quanto dos professores. Eu, sinceramente, acredito que à medida que a educação for capacitando pessoas que tenham um reconhecimento das suas emoções, do seu poder de criação, a própria educação se torna melhor, mais fluida, capaz de estar em vários lugares e sair das caixinhas de português, matemática, história e ir para algo mais abrangente. Acredito em formar cidadãos que estejam prontos para interagir com várias frentes, várias tecnologias, metodologias e que tenham empatia em vários campos, para que o aluno possa dar conta das diversas aprendizagens”, conclui Lizzia.