ARTIGO

Olhar pedagógico

Rádio como meio para as habilidades socioemocionais

O locutor e radialista Jorge Luiz Moreno notou que a criação de uma rádio desenvolve um ambiente de acolhimento e liberdade nos jovens. Ele sabe que na sala de aula a comunicação é a ferramenta principal. “Se você não dialoga com o professor, se não […]

Publicado em 11/04/2023

por Leticia Scudeiro

O locutor e radialista Jorge Luiz Moreno notou que a criação de uma rádio desenvolve um ambiente de acolhimento e liberdade nos jovens. Ele sabe que na sala de aula a comunicação é a ferramenta principal. “Se você não dialoga com o professor, se não consegue se expressar e fica em um cantinho calado sem interagir com os outros alunos, não terá nenhum aproveitamento. Nossa preocupação é desenvolver as habilidades socioemocionais [do aluno]. Ajudá-lo por meio da comunicação oral/verbal para ele interagir com os outros e aprender a se comunicar. A partir do momento em que o jovem cria e produz conteúdo, conversa e dialoga, ele vai trabalhando essas questões”, apresenta Moreno, como costuma ser chamado. 

———-

Leia:

Música na escola: não se pretende formar instrumentistas, mas dar formação cultural

Linguagens do hip-hop como didáticas de letramentos

———-

Programação elaborada por e para crianças e jovens

Jorge Moreno fundou o projeto Rádio Escola em 2004, o qual já teve diversos formatos, nomes e localidades. Mas foi em 2019 – ao notar o interesse de seu filho e de uma colega nesse tipo de veículo quando o acompanhavam em seus trabalhos como radialista no Rio de Janeiro – que ele criou a rádio online Escola FM. A programação é elaborada por e para crianças e adolescentes, com músicas e conversas voltadas ao universo nerd. De maneira espontânea, aos poucos os jovens passaram a se interessar pelo novo projeto, produzindo conteúdo para a sua programação – inclusive, familiares dos participantes chegaram a produzir alguns programas. Todas essas ações aconteciam online, sem um encontro presencial entre Moreno e os meninos e meninas.

rádio escola
“A partir do momento em que o jovem cria e produz conteúdo, conversa e dialoga, ele vai trabalhando essas questões [habilidades socioemocionais]”, conta o radialista Jorge Moreno Foto: arquivo pessoal

Em 2022, Moreno firmou uma parceria com a Escola Foco & Diretriz e juntos lançaram a Academia Rádio Escola Foco & Diretriz, um espaço físico na cidade do Rio de Janeiro para desenvolver em crianças e adolescentes habilidades socioemocionais, sendo a rádio, e tudo o que esse tipo de veículo pede, o meio para essas habilidades serem colocadas em prática.

São diversos programas gerenciados e criados pelos jovens, dentre eles Girl power, que fala sobre empoderamento feminino; Lugar de fala, espaço para discutir questões de gênero, racismo, homofobia, entre outros; Mochileiro das galáxias, que desbrava o universo de heróis, filmes e viagens (reais e virtuais); Escola de campeões, sobre o universo gamer; Anime-se, voltado à cultura nipônica e asiática; Sarauzinho, focado na cultura, música, literatura e eventos para o público infantil; e o Jornalzinho, que traz notícias e informações também para esse público. 

———-

Leia: Rádio e educação: a novidade que não acabou

———-

“Quando começamos essa parceria vimos que muitos jovens vêm tendo problemas de depressão, síndrome de pânico e várias outras coisas. Eu estava passando isso com meu filho em casa. Quando o Moreno trouxe o projeto eu superabracei, principalmente pela iniciativa de dar voz às crianças, que acredito ser o mais importante. Não vemos projetos parecidos dando voz a essas crianças e adolescentes”, explica a diretora da Escola Foco & Diretriz e coordenadora pedagógica da Academia Rádio, Márcia Morais.
“Não vemos projetos parecidos dando voz a essas crianças e adolescentes”, explica a coordenadora pedagógica da Academia Rádio, Márcia Morais
Foto: arquivo pessoal

Pode participar da Academia Rádio qualquer criança entre oito e 16 anos que esteja matriculada na escola. A primeira turma formada pelo curso teve aulas durante seis meses, tendo um período de estágio após a formação. Neste ano o projeto dura oito meses, sendo dois direcionados para o estágio – que busca, por meio de visitas a rádios da região, promover aos alunos a experiência prática de como uma rádio funciona.

rádio escola
Durante o estágio, os alunos da Academia Rádio Escola Foco & Diretriz fazem visitas às rádios e vivenciam na prática como funciona a profissão
Foto: arquivo pessoal

As crianças formadas no curso participam ativamente da rádio Escola FM como locutoras e criadoras de conteúdo. Contudo, a Academia Rádio concentra a formação e a Escola FM apenas a efetivação de programas.

———-

Leia: Habilidades socioemocionais melhoram aprendizagem em matemática e português, além de combaterem a evasão escolar

———-

Para aqueles que não querem fazer parte do curso, mas se interessam pelo projeto, Moreno criou o Repórter da Escola, em que o jovem pode indicar ou enviar conteúdo para a rádio Escola FM sobre o seu bairro, sua escola, entre outros temas. Os repórteres recebem orientação online sobre o conteúdo que é avaliado pelos apresentadores de cada programa para entrar na grade. Por ser uma rádio online, as crianças e os jovens que a fazem possuem a senha e o acesso da plataforma para a criação de playlists, programas, enviar conteúdo, e colocar no ar. Tudo pode ser realizado remotamente e eles têm liberdade para decidirem sobre o que querem falar, sob mentoria de Jorge Moreno.

Alunos se transformam 

“Meu filho, por exemplo, fez o curso e agora está começando a gravar também para a rádio. Ele é criador do Mochileiro das galáxias, que fala sobre viagem. O Moreno fala que eles [os jovens] são os nerds, que sabem como vão produzir. Está tudo na cabecinha deles e que ele só ajuda a colocar isso no papel e a tirar do mundo da imaginação”, pontua Márcia.
rádio escola
A rádio Escola FM transformou a vida das gêmeas Ruth e Rebeca
Foto: arquivo pessoal

As gêmeas Ruth e Rebeca também atuam na rádio Escola FM e ganharam uma bolsa para o curso da Academia Rádio. Segundo Jô Milagres, mãe das meninas, o trabalho com a rádio mudou a realidade de suas filhas. Rebeca, que tinha uma personalidade mais tímida e insegurança de soltar a voz, conseguiu com a rádio um espaço para se expressar. Já Ruth, que é atriz mirim, e que tinha dificuldade de abrir os seus horizontes, com a rádio criou o programa Lugar de fala, em que procura discutir temas sociais relevantes para a sociedade.

Escute nosso episódio de podcast:

Autor

Leticia Scudeiro


Leia Olhar pedagógico

Educação integral_Gina_2

Educação integral é tema da série ‘E aí, professor?’, do Futura

+ Mais Informações

Jovens amazônicos se mobilizam pela justiça climática

+ Mais Informações
bibliotecas no Quênia_refugiado_destaque

Ex-refugiado que criou bibliotecas no Quênia ganha prêmio global

+ Mais Informações
Leitura de livros_destaque

Leitura de livros é incentivada com passeios fora da escola

+ Mais Informações

Mapa do Site