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O perfil do perpetuador de ataques voltados às escolas são jovens (10 a 25 anos) que não são de classe social baixa, homens brancos, que buscam reconhecimento em um determinado grupo e com indícios de transtornos mentais variados. Quem destaca as características e os motivos […]
Publicado em 11/05/2023
O perfil do perpetuador de ataques voltados às escolas são jovens (10 a 25 anos) que não são de classe social baixa, homens brancos, que buscam reconhecimento em um determinado grupo e com indícios de transtornos mentais variados. Quem destaca as características e os motivos que podem levar a essa violência extremista é Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
“A escola é palco de sofrimento para esses estudantes [que viraram assassinos]”, alertou Telma Vinha.
Ela falou sobre o tema no painel Saúde mental e avaliação psicológica de adolescentes, ontem, 10, na Bett Brasil*, que ocorre entre os dias 9 e 12 de maio.
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Telma realiza pesquisas sobre a qualidade da convivência e do clima escolar, conflitos e violência em instituições educativas, desenvolvimento moral e socioemocional. É ainda coordenadora pela Unicamp do Grupo de Estudos Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública.
Segundo ela, os jovens que praticam atos de ameaça e violência contra a escola, geralmente, estão ligados a comunidades online, localizadas em plataformas como o Discord, conhecido pelos jogos. Eles se veem acolhidos e ouvidos nesses espaços, aumentando o desejo de realização, por isso muitos fazem competições entre si sobre os ataques, para ganhar reconhecimento. ”É fundamental evitar que eles tenham notoriedade, porque provoca o ganho de reconhecimento e estimula novos ataques”, contou.
Além de Telma, participou do painel Juliana Hampshire, educadora, psicóloga e mestre em teoria psicanalítica.
O Discord pode ser resumido como uma espécie de rede social com ênfase em jogos e cujos jovens aproveitam o espaço para a criação de comunidades, entre elas o TCC (True Crime Community), que é uma comunidade online de crimes com orientações e até celebrações de massacres.
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O ‘combate’ ao bullying e à violência na escola
Juliana destaca que a escola precisa estar aberta ao diálogo e se tornar um lugar de escuta para que o jovem também se sinta acolhido e pertencente ao espaço escolar.
“A escuta traz uma impressão de tempo. Escutar o outro demanda trabalho, faz com que eu me coloque no lugar de espera porque uma palavra vem depois da outra. Existe uma negociação quando a gente conversa e, quando vemos uma associação ao ódio, à violência, à agressão, percebemos que não existe lugar para o outro. Não existe lugar para a diferença. E é justamente esse lugar de escuta que garante que o outro exista”, apontou.
O ataque à escola não é um fator isolado de determinada comunidade escolar. Qualquer escola está sujeita a se tornar alvo, por isso, segundo Telma é importante que o tema seja trazido para dentro das salas de aula.
“É fundamental que o tema seja objeto de conhecimento institucional. É preciso ensinar aos alunos o que é radicalização, como é essa comunidade [de discursos de ódio], como você vai anunciando essas pessoas [que cometem esses atos]. Muitos [educadores] sequer sabem o que é o Discord. Esse desafio envolve todos. O senso comum não vai dar conta da complexidade. Então temos que batalhar para que as várias instâncias se articulem para que a gente consiga lutar contra isso”, concluiu Telma Vinha.
*A Bett Brasil é o maior evento de educação e tecnologia na América Latina. Acontece de 9 a 12 de maio, no Transamerica Expo Center, São Paulo. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.
Nossa cobertura jornalística tem o apoio das seguintes empresas: Epson, FTD Educação, Santillana Educação, Skies Learning by Red Balloon e Somos Educação.