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Por Diego Sette*: A vida do professor, que já não era simples, passou a ficar ainda mais desafiadora com a chegada (e instalação) das novas tecnologias na sala de aula. Acompanhamos, especialmente na pandemia, a forma como as ferramentas digitais viabilizaram uma redefinição na forma […]
Publicado em 07/11/2023
Por Diego Sette*: A vida do professor, que já não era simples, passou a ficar ainda mais desafiadora com a chegada (e instalação) das novas tecnologias na sala de aula. Acompanhamos, especialmente na pandemia, a forma como as ferramentas digitais viabilizaram uma redefinição na forma como a educação é ministrada e recebida.
Essa nova dinâmica, sob o impacto da tecnologia, já estava oficialmente contemplada no Brasil desde 2018 pela nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — documento do MEC que entre uma série de apontamentos, prevê que os estudantes desenvolvam, ao longo da educação básica, a competência para compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais.
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Como os educadores estão situados agora que sua relação com o estudante passou a ser mediada, ou intermediada, pela tecnologia? Como docentes e alunos navegam nesta era digital e quais são os desafios e oportunidades que ela apresenta para ambas as partes?
A pesquisa Skills outlook: employee view, produzida pela Pearson em parceria com o Google, traduz esse novo momento. Segundo o estudo, atualmente os brasileiros estão priorizando o aprendizado por meio de plataformas digitais e aplicativos, e já consideram cursos rápidos e treinamentos intensivos online como as melhores formas para se avançar na carreira. Essa conclusão reforça o crescimento de ferramentas tecnológicas na educação e qualificação cotidiana.
Nós, professores e profissionais envolvidos diretamente com o ensino precisamos adotar uma atitude de cautela para extrair o que a tecnologia pode oferecer de melhor — para nós e para os alunos. É necessário, por exemplo, ampliar ainda mais as nossas discussões acerca dos métodos de ensino a fim de identificar quais deles envolvem os alunos de forma mais eficaz neste ambiente tecnológico.
Na ausência de interações presenciais, é igualmente essencial manter a conexão humana entre mestres e alunos, a fim de promover um sentimento de pertencimento e confiança.
Sabemos, por exemplo, que duas das grandes vantagens das tecnologias são a flexibilidade e a acessibilidade. A utilização de videochamadas, plataformas de chat e ferramentas colaborativas se tornaram constantes na educação formal.
No entanto, no Brasil, todas essas possibilidades ainda não estão ao alcance de todos. Uma pesquisa divulgada em 2022 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) produzida com um quórum de 3,6 mil escolas brasileiras e 1,8 mil professores, mostra dificuldades no ensino remoto e na execução de atividades pela internet ou com uso de aparatos digitais.
Segundo o estudo, na rede pública, 95% dos educadores apontam que os pais enfrentam apuros para conseguir apoiar os filhos nas atividades. Em instituições privadas, o índice ainda é de 88%. Portanto, ainda temos barreiras a romper.
Os professores, por outro lado, têm a oportunidade de promover a ampliação do acesso à educação por meio de instrumentos que aprimoram a experiência do aluno — a exemplo de sistemas de reconhecimento de voz, gamificação, recursos de acessibilidade para daltônicos, disléxicos e pessoas com baixa visão, além de outras soluções voltadas exclusivamente para crianças. Ainda há a oportunidade de aproveitar dados e análises para adaptar os métodos de ensino às necessidades individuais dos alunos e do coletivo.
Na teoria, a oportunidade descrita acima é real. No entanto, para que esta saia do plano do discurso e atinja a realidade das salas de aula, é necessário que ambas as partes sejam alfabetizadas digitalmente e se tornem tecnologicamente competentes.
É essencial que sejam discutidas e definidas políticas públicas para um plano nacional de educação digital com a escuta dos professores e métricas para mensurar sua eficácia com olhar para os alunos — a fim de saber se estão surtindo o efeito positivo esperado.
Dessa forma, os docentes podem aplicar de forma mais segura e consciente as tendências e ferramentas de tecnologia educacional, ao passo que os estudantes aprendem competências de literacia digital para navegarem de maneira proveitosa na sala de aula virtual.
Devemos considerar, ainda, outros obstáculos no âmbito das políticas públicas multidisciplinares (nas áreas de educação, ciência e tecnologia, comunicação e saúde): falhas técnicas; problemas de conectividade; fadiga da tela como adversos à experiência de aprendizagem e questões de segurança digital, por exemplo.
Mas para além de todos esses desafios, saber mediar a construção do aprendizado nesses novos tempos já tem sido uma construção diária do professor nesses novos tempos. Entendemos que cabe aos órgãos públicos a regulação do ensino em plataformas digitais, assim como acontece na educação convencional.
No entanto, o educador também assume um papel inestimável na era digital: agem também como facilitadores experientes em tecnologia, orientam os alunos nas complexidades da aprendizagem virtual e tecnológica e se colocam entre as máquinas e os aprendizes, de modo a humanizar as experiências e adequá-las à realidade. É fundamental celebrar a relação única entre docentes e estudantes nessa nova era, que permanece inabalável na educação contemporânea.
Em última análise, a dinâmica entre eles é um equilíbrio delicado que exige adaptação contínua, apoio de inúmeros players e uma compreensão profunda das necessidades e expectativas de ambas as partes. Ao fazê-lo, podemos navegar com sucesso e aproveitar ao máximo as oportunidades que a tecnologia oferece para aprimorar a educação e preparar os alunos para um mundo que, ao final, será uma extensão de sua sala de aula.
*Diego Sette é diretor de tecnologia da Pearson Latam
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